Sessão especial
Vapor
De Apichatpong Weerasethakul
21 min | 2015 | Tailândia/ Coreia/ China
Sem som

As nuvens descem sobre uma aldeia e a submerge por um dia. Tocam as telhas, as camas, as cadeiras, os tapetes, a grama e os corpos, infectando tudo com a febre do estupor branco. Vapor se passa na vila de Toongha no distrito de Mae Ram, que foi o lar de Apichatpong nos últimos oito anos. A aldeia é uma das várias áreas do país que são atormentadas por problemas de gestão de terras. Nos últimos sessenta anos, tem sido um campo de batalha entre o povo e o estado.

Vapour por Apichatpong

As montanhas possuem um fascínio inegável. Embora a cerca da minha casa seja próxima ao quartel e constantemente ouçamos a prática de tiro para uma guerra invisível, a beleza ao redor das montanhas; os lótus, as galinhas, as vacas e os bambuzais tornam impossível deixar este lugar.

O vilarejo de Toongha no distrito de Mae Ram tem sido minha casa nos últimos oito anos. Aprendi que em sua tranquilidade existe uma raiva oculta. A aldeia é uma das várias áreas do país que são atormentadas por problemas de gestão de terras. É um campo de batalha entre o povo e o estado. Nos últimos sessenta anos, os aldeões solicitaram a propriedade da terra em que suas famílias se estabeleceram por gerações. Anos atrás, cercas de arame farpado foram erguidas para resistir às ameaças de despejo do exército. Durante os confrontos acalorados, dezenas de casas de soldados na área foram incendiadas. A chama continua forte na memória. Agora continua sendo um inferno silencioso.

Vapor é uma colaboração entre as pessoas que vivem aqui, as arquiteturas, os animais, os jovens cineastas de Chiang Mai e eu. Juntos fizemos um filme que é um cruzamento, entre um suspense criminal e um romance, ou poderia ser um poema peculiar da estação das chuvas.

Junho é a época em que a aldeia é atacada por um enxame de mosquitos que se erguem dos pântanos. A autoridade local tem um serviço de pulverização de mosquitos durante todo o ano. A equipe carrega uma máquina portátil e perambula pela aldeia envolvendo tudo com nuvens brancas de inseticida. Isto não apenas mata os mosquitos, formigas e outros insetos, a névoa cria uma vista do céu realocada para a terra. As nuvens tocam as telhas, as camas, as cadeiras, os tapetes, a grama e nossos corpos, como se tudo estivesse submerso em um mundo de sonhos. Ou é um mundo de filmes trash de terror? _ Apichatpong Weerasethakul (2015)

Fotografia: Chatchai Suban | Montagem: Chatchai Suban, Apichatpong Weerasethakul | Produção: Youku, Busan International Film Festival | Elenco: Krissakorn Thinthupthai, Thanyarak Chakkrawan, Kasame Tidnaur, Pichaya Tidnaur, Wanla Chuenjee
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04/07 | DOMINGO
Direção

Apichatpong Weerasethakul nasceu em 1970 na cidade de Bangkok, Tailândia. Se formou arquiteto na Universidade de Khon Kaen, e artista visual no Art Institute of Chicago. Temas recorrentes dos seus filmes incluem religião e misticismo, a natureza e a sexualidade humana, além da realidade de diferentes povos no Sudeste Asiático. Um dos mais originais e premiados diretores contemporâneos, Apichatpong venceu a Palma de Ouro no Festival de Cannes de 2010 pelo filme Tio Boonmee que pode recordar suas vidas passadas. Seu próximo filme, Memoria, deve ser lançado em 2021.

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