Existe uma grande diferença entre gostar de cinema e gostar de ir ao cinema. Muitas pessoas dizem que gostam de cinema, mas na verdade elas gostam mesmo é de sentar em um sofá confortável com um quilo de pipoca no colo e passar uma e hora e meia sem precisar pensar nas contas atrasadas, na guerra no Líbano ou na sucessão presidencial, na companhia de um monte de gente gritando "u-hu!". Esse é exatamente o tipo de cinéfilo que acha que qualquer filme que não seja falado em inglês é esquisito, "cult", cabeça, etc. É uma pena, porque essas pessoas perdem ótimas oportunidades na vida.
Perdem, por exemplo, a chance de ver um filme polonês. Talvez a coisa mais incrível, fantástica, milagrosa e fascinante do mundo do cinema seja o fato de que qualquer pessoa do mundo pode fazer um filme, e qualquer outra pessoa do mundo pode ver esse filme - e elas vão se entender através dele. Quando ouvimos música de lugares tão diferentes quanto Japão, Indonésia, Rússia e México, notamos diferenças extremas, tanto no ritmo, quanto nas progressões de acordes, volumes, instrumentos, etc. No entanto, se vemos um filme finlandês, iraniano ou chinês, criamos uma estranha sensação de familiaridade com essas culturas tão díspares da nossa, e acabamos percebendo que talvez elas não sejam tão díspares assim. Afinal de contas, somos todos seres humanos e temos muita coisa em comum dentro de nossos cérebros. A isso damos o nome de "emoções", e é isso que esses filmes nos oferecem. É muito reconfortante saber que as pessoas do mundo inteiro sentem a mesma coisa que a gente.
Não é diferente com nossos amigos poloneses. Qualquer pessoa que já viu um filme de Roman Polanski ou Andrej Wajda sabe muito bem do que eu estou falando. Mas existe algo mais que conecta esses diretores além da maestria cinematográfica presente em seus filmes. O nome dele é
Janusz Morgenstern.
Com a invasão e posterior destruição da cidade de Varsóvia na II Guerra Mundial, os trabalhadores da indústria cinematográfica polonesa, e os alunos e professores das escolas de teatro e cinema fugiram para a cidade de Lodz, onde se estabeleceriam temporariamente, até a guerra terminar. Em 1949, o grupo se dividiu em dois: um voltou para Varsóvia, e o outro ficou em Lodz. A escola de Lodz ficou famosa como a escola de cinema mais liberal e menos comunista da Polônia, e foi lá que Morgenstern se formou, assim como seus colegas Andrzej Wajda e Roman Polanski.
No início de sua carreira, Morgenstern foi assistente de Wajda, com quem trabalhou em filmes como
O Canal (Kanal) e
Cinzas e Diamantes (Popiol i Diamant). Mas em 1960, Morgenstern estréia na direção, com
"Até Logo, Até Amanhã" (Do widzenia, do jutra), filme onde Roman Polanski trabalhou como ator. Nas décadas de 1960 e 1970, Morgenstern também dirigiu alguns seriados muito populares para a TV polonesa. Além disso, ele foi por muitos anos diretor de arte dos Estudios de Filmes "Perspectiva", na Polônia, e a partir de 1989, começou a trabalhar também como produtor, co-produzindo filmes de Andrzej Wajda (como
Zemsta) e de Roman Polanski (
Oliver Twist), além do clássico
Europa, Europa, de Agnieszka Holland.
Aqui no Brasil, o nome de Morgenstern é freqüentemente associado à profissão de produtor, e sua associação com Polanski e Wajda, mas ele dirigiu muitos filmes, longas e curtas, além de séries e especiais para a TV. O Indie 2006 traz a Belo Horizonte uma mostra com 6 longas do diretor, além de um documentário sobre ele.
Exercícios Para Esquecer(Polônia, 2005)Filme sobre a vida e a obra do diretor polonês Janusz Morgenstren. Direção de Andre Krauze.
Cachecol Amarelo(Zolty szalik, Polônia, 2000, 59 min.)História tragicômica de Natal, sobre um alcoólatra que passa o feriado na casa de sua mãe. O presente dela - uma cachecol amarelo - deveria ser um talismã na luta contra o vício.
É Preciso Matar Esse Amor(Trzeba zabic te milosc, Polônia, 1972, 92 min.)História de amor entre dois adolescentes - uma menina equilibrada e responsável e um jovem fraco e irresponsável.
Até Logo, Até Amanhã...(Do widzenia, do jutra..., Polônia, 1960, 80 min.)História de amor entre dois jovens, que, por causa de sua imaturidade, não conseguem segurar as emoções que surgem desse amor. Um retrato sutil e afetivo do ambiente "existencialista" da juventude dos anos 50.
O Céu Menor(Mniejsze niebo, Polônia, 1980, 94 min.)Testemunho da rebelião de um indivíduo contra o mundo e um apelo pela tolerância pelas decisões individuais de cada um. Um cientista de 45 anos inesperadamente larga mulher, filhos, casa e trabalho para viver em uma estação de trem. Ele resiste às tentativas de seus amigos de trazê-lo de volta, até que um jornalista começar a persegui-lo.
Jowita(Jowita, Polônia, 1967, 91 min.)Um talentoso atleta apaixona-se por uma mulher misteriosa que conhece em um baile de máscaras. Após o baile, no entanto, ele não consegue mais achá-la e envolve-se em histórias amorosas com outras mulheres, sempre procurando a mulher do baile. Vive de devaneios do amor verdadeiro, procurando a sua própria identidade.
Mais Uma Vez A Vida(Zycie jeszcze raz, Polônia, 1964, 92 min.)Dramático destino de três pessoas na Polônia comunista, na época da "distensão" após a morte de Josef Stalin.