Apresentação

"No inconsciente, cada um de nós está convicto de sua imortalidade"
(S. Freud em De guerra e morte: Temas de atualidade.)

"O valor da transitoriedade é o valor da escassez no tempo."
(S. Freud em A transitoriedade, 1915)

Estamos sempre afoitos
para terminar algo
ou começar...
Ao longo do tempo,
quando nos damos conta
já se foi o dia, o sol já se pôs,
a noite chega e às vezes dormimos mal
porque não temos tempo para descansar.
O tempo é uma grande preocupação -
sofremos essa angústia da transitoriedade.

Sabemos que nada vai ficar para sempre.
e na verdade sabemos pouco sobre a permanência.
Estamos aqui apenas (talvez) por algumas décadas,
(...e as crianças crescem, rápido demais!).

O que ficará daquilo que estamos construindo:
a cidade, a natureza, as ideias, o cinema.
Materiais ou imateriais:
amor, saudades, memória, história, sensações.

Quando começamos a penetrar nesse universo do cinema,
(não o cinema apenas para se divertir),
(mas o cinema essencial, genuíno -
que nos faz pensar e transcender o que somos),
começamos a ter consciência do tempo/espaço
também fílmico.
Um outro estar no
aqui&agora do cinema.
Uma espécie de imortalidade.
E com isso passamos a intensificar a sensação do tempo,
a infringir o minuto,
a nos transportar,
a fluir com as horas.
Passamos a desejar por mais,
mais momentos de contentamento.
Ilusório ou não, naturalista ou não.
Construídos na mesura da transitoriedade.
O cinema nos lembra e nos faz esquecer,
ao mesmo tempo,
o quanto
estamos de passagem:
nós, carne osso matéria;
ele, cinema, luz ideia imagem tempo imatéria conceito,
eternidade.

O artista catalão Albert Serra e o francês Eugène Green, em retrospectiva
completa nessa edição do INDIE 2014,
sabem exatamente sobre a medida dessa imortalidade
(senão o saberiam seus inconscientes).
Dois cineastas bem diversos mas que trazem em comum
uma consciência ímpar da construção de uma singularidade estética.
O cinema é para ambos uma expressão subjetiva de suas construções criativas.

Um, Serra pela inventividade de universos próprios criados do nada,
inspirados na história, através de personagens imortais porque literários
(mas altamente mortais pela posição diegética que ocupam no filme em si, materializados que estão como objetos de nossa observação).
Como não falar de Dom Quixote, Sancho Pança, Drácula ou Casanova, sem falar da imortalidade, do transitório, do que resta no risco da memória universal?
O cinema de Albert Serra, tão paradoxalmente consciente dessa transitoriedade,
se firma pela suas garras ao contemporâneo:
incomum, criativo, audacioso, desavergonhado, consciente.

O segundo, Eugène Green, marcante pela sua escolhas.
Nele, até mesmo as propostas de ruptura com o fazer cinematográfico são desautomatizadas. Propondo novos padrões e alguns riscos mas
preciso, rigoroso, conceitual e observador.

O cinema como se sonha
seria o cinema que se quer idealizado pelo artista.

Além dessas duas grandes almas cinematográficas,
o Indie exibe ainda 29 filmes novos, todos inéditos no Brasil,
e todos escolhidos a dedo.
Para que possam fazer de cada escolha sua
um momento infinitamente melhor.
Um presente
de algum risco experimental.
Para que você aproveite este festival de cinema
(que tem consciência de sua transitoriedade
e/ou permanência
imaterial)
por alguns minutos e horas eternas.

francesca azzi
Indie Festival

Cine Humberto Mauro
Av. Afonso Pena, 1.537 | Centro

19º55'29.1"S 43º57'46.8"W
Belas Artes Cinema
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