boa sorte, ao indie &
aos amantes do cinema
revolucionário
deste
mundo
Há 17 anos nos perguntamos o que queremos ser como um festival de cinema independente. Há 17 anos a resposta parece estar cada vez mais clara. Com as últimas reviravoltas políticas do país, perdemos a inocência. O INDIE se tornou adulto apesar de ainda não ter alcançado sua maioridade. Se antes nos perguntávamos que tipo de festival gostaríamos de ser, sem seguir formatos prontos, sem sofrer com as forças políticas e econômicas que nos colocavam desafios para nossa existência, hoje queremos seguir sendo o que construímos, ao longo do tempo, como ideia, mas sem abrir mão de nossa liberdade curatorial ou do nosso quase “estatuto” de que um festival precisa necessariamente de conceitos e de filmes que questionem e revigorem o próprio cinema. Um festival como o INDIE pensa em cada escolha, e são elas que tecem os meandros de nossa especificidade enquanto um festival. Queremos ser o que somos, e do tamanho que somos, não há nenhuma outra intenção aqui que não a de trazer o pensamento contemporâneo sobre o cinema através dos filmes, dos conteúdos dos filmes, dos diretores dos filmes e da história do cinema. Esta é nossa maneira de fazer política. Um festival é em si um ato político - o cinema é algo que pode revolucionar a maneira de pensar do indivíduo, trazê-lo para um mundo mais íntegro que respeita as diferenças individuais e culturais, que complexifica a vida ordinária para trazer à luz a liberdade estética e experimental. O cinema pode servir a uma experiência libertadora, e abrir para infinitas possibilidades do pensamento.
seis cineastas mulheres em
16 filmes
em première no brasil
Dezesseis filmes inéditos no Brasil formam a curadoria da mostra Mundial. Este programa reflete a produção atual do cinema independente realizado em várias partes do mundo. Traz a voz única de seis cineastas mulheres para expressar o que há de mais audacioso e interessante na produção contemporânea atual: a portuguesa Teresa Villaverde constrói com sua experiência, no reflexivo Colo, o esfacelamento familiar causado pela crise econômica; a retidão da alemã Angela Schanelec faz de O caminho dos sonhos um dos filmes mais originais do ano, na sua forma narrativa; a jovialidade francesa de Léonor Serraille, prêmio Caméra d’Or no Festival de Cannes, revela o frescor dos conflitos em Jovem mulher; e a força alemã de Valeska Grisebach, em seu terceiro longa, explora de forma humana e poderosa as intrincadas relações políticas atuais em Western. O cinema experimental da artista americana Sharon Lockhart (Rudzienko) e o primeiro longa da cineasta portuguesa Filipa César (Spell Reel), também estão no INDIE.
O inesquecível e emblemático diretor sul-coreano Hong Sang-Soo, com seu filme mais melancólico, está na Mostra Mundial: Na praia à noite sozinha, que deu o prêmio de melhor atriz para Kim Minhee na Berlinale 2017. O diretor japonês Kiyoshi Kurosawa volta ao INDIE com Antes que tudo desapareça que estreou no último Festival de Cannes, com sua história mirabolante sobre uma invasão de extraterrestres. Três diretores estreantes estão na mostra: o sul-africano John Trengove (Os Iniciados), o alemão Julian Radlmaier (Autocrítica de um cachorro burguês), o georgiano Rati Oneli (Cidade do sol) e o russo Kantemir Balagov (Tesnota), que recebeu o Prêmio FIPRESCI na Un Certain Regard, do Festival de Cannes. E para fechar o line-up, foram selecionados os longas mais recentes de Damien Manivel (O parque) e do chinês Huang Wenhai (Nós somos os trabalhadores).
ele,
philippe garrel
Uma retrospectiva dedicada ao mítico cineasta francês, pós-nouvelle vague, Philippe Garrel está no INDIE 2017. Nascido em 1948, Garrel fez, pessoalmente, a seleção dos 22 filmes que gostaria de ver exibidos no festival, assim como decidiu os formatos de exibição, entre 35 mm e DCP – o diretor vem cuidando pessoalmente da restauração digital dos seus filmes antigos.
#clássica,
filmes restaurados
Em seu terceiro ano consecutivo, apresentamos o programa Clássica, projeto permanente da Zeta Filmes, que exibirá quatro filmes clássicos e um cult restaurados que serão relançados nos cinemas comerciais brasileiros a partir de novembro. Comemorando 50 anos do seu lançamento com cópias restauradas em 4k, dois filmes importantes para a história do cinema e que são, ao mesmo tempo, antagônicos em seu estilo e produção: A bela da tarde, o clássico do surrealista espanhol Luis Buñuel com a estonteante Catherine Deneuve; e a comédia A primeira noite de um homem, que deu o Oscar de melhor diretor para Mike Nichols, com Dustin Hoffman e Anne Bancroft. Completam o programa o primeiro longa de Jean-Luc Godard, Acossado (1960); Stromboli (1950) de Roberto Rossellini com Ingrid Bergman, e um cult incontestável: Mulholland Drive: Cidade dos sonhos (2001) de David Lynch.
O INDIE FESTIVAL realiza sua 17ª edição em um dos momentos políticos mais complexos da história brasileira. Talvez tenhamos que criar daqui para frente um novo estatuto necessário para um novo paradigma político que parece impor um grande retrocesso no percurso do desenvolvimento artístico e cultural do país. Mas reafirmaremos a nossa causa: um festival de cinema deve servir ao cinema de arte, ao cinema independente e aos filmes clássicos que marcaram a história do cinema, deve estimular o público a ver este cinema, e a sociedade a preservar seus cinemas de rua, de bairro, e seus centros culturais voltados para o cinema. Esta edição nasce, principalmente, de um comprometimento que estabelecemos com o nosso público fiel. Ao público que sempre soube o que esperar do festival, que desde o primeiro INDIE em 2001 já estava lá, a todos nós, boa sorte.
Francesca Azzi
Curadora do Indie Festival