Sim, ele filma o sexo. Há quase sempre homens e mulheres transando. Muitas vezes, eles falam da guerra, dos conflitos éticos, da política, enquanto se beijam, se desejam. Outras vezes, é o fetiche, o transe, o sexo perverso, masoquista e violento. Mas não há política no gozo?

Ele é Koji Wakamatsu. Nasceu em 1936, em Wakuya, Japão. Há 45 anos começou toda esta história. Fazer filmes. E começou com um que tinha muitas cenas de sexo, para a major japonesa Nikkatsu. Entre 1963 e 1965, dirigiu 20 filmes do gênero, virou um dos mais célebres diretores dos pinku eiga, ou pink films, os filmes eróticos de baixo orçamento típicos do Japão. Por muito tempo, um dos segredos mais bem guardados do país, os pink films, não eram distribuídos para outros países, traziam os tabus, fantasias e fetiches sexuais daquela sociedade, mantendo as dualidades proibido/permitido, sexo/política, perversão/violência e criando regras: nada de sexo explícito e nu frontal, principalmente, masculino, claro.

Wakamatsu, no entanto, sempre acrescentou elementos estéticos, políticos, radicais, indo muito além de ser apenas um diretor tradicional de filmes pink. Aliás, nada é tradicional em Koji. Ele é antes de tudo um anarquista de bem com a arte de fazer cinema. Basta assistir e ver os planos elaborados, belas músicas, a fotografia, a explosão da violência do desejo e da guerra.

Sua liberdade criativa foi impulsionada por um escândalo. Em 1965, o Festival de Berlim seleciona “Segredos por Trás da Parede” e cria um problema diplomático. Como um filme de essência pinku eiga sai do Japão e é exibido representando o cinema do país na Europa? A partir daí, o diretor cria a Wakamatsu Productions e realiza livremente e freneticamente mais de 100 filmes.

O primeiro filme da sua nova produtora é “O Embrião Caça em Segredo”, de 1966, Wakamatsu gosta de citá-lo como um dos seus favoritos, trata da essência do poder numa relação entre um homem e uma mulher. “Go Go Second Time Virgin”, de 1969, um cult, filmado no telhado da sua produtora, com uma trilha sonora especial, e ”Êxtase dos Anjos” (1972), um filme provocativo e exemplar de como Wakamatsu explora sexo e radicalismo político, são marcos da parceria dele com Masao Adachi.

Da sua produção mais recente, bem mais política e crítica à sociedade japonesa, o INDIE exibirá o lírico “Crônicas de Bicicleta: Paisagens Que O Menino Viu” (2004) e seu último filme “United Red Army”, que resgata em mais de 3 horas - utilizando imagens de arquivo, reconstituição e ficção - um importante momento da militância terrorista no Japão.

Conhecer os filmes de Koji Wakamatsu é descobrir a obra de um cineasta que vive produtivamente a margem dos mercados, impérios, tendências, é conhecer a obra de um homem sem medo, livre.


“No começo, o erotismo era uma decisão estratégica que me permitia fazer os filmes que queria. Mas logo compreendi que podia usá-lo como uma ferramenta importante para desenvolver meu ponto de vista e o que tinha sido somente uma obrigação, tornou-se útil para mim.” *

“A razão pelas quais meus filmes são políticos é que eu não tomei a decisão de ir e começar a jogar granadas. Através do cinema eu tento, apesar de tudo, estar politicamente ativo – para mostrar ao espectador que o governo põe um revólver nas suas cabeças.” *

“Eu penso que era melhor ter um escândalo como este, com duas opiniões muito polarizadas, que ter todo mundo concordando. O consenso é um tédio. Realmente me fascinava ver tais reações diversas. Quando eu vejo agora como as pessoas reagem a meu novo filme "United Red Army", em que todos apenas o acham "interessante", eu devo admitir que me sinto decepcionado.” **

* Trechos da entrevista dada a Jean-Pierre Bouyxou. Publicada em Sex Star System n°14 (1976). (Disponível no site http://wildgrounds.com)

** Entrevista a Tom Mes, do site Midnight Eye, comentando as reações inflamadas que o filme Embryo Hunts in Secret recebeu na época da sua exibição. (http://www.midnighteye.com)