Cinema #clássicos
O MATADOR DE OVELHAS
De Charles Burnett
80 min | 1977 | Estados Unidos | C.I.: 14 anos

O matador de ovelhas retrata um gueto negro de Los Angeles, o bairro de Watts, em meados dos anos 1970, pelos olhos de Stan, um homem sensível e sonhador que sobrevive alheio e indiferente ao custo psíquico decorrente de seu trabalho em um abatedouro. Porém, mesmo se sentindo frustrado com seus problemas financeiros, ele encontra alento em momentos de beleza singela: o calor de uma xícara de chá em seu rosto, uma dança lenta com sua esposa, a filha em seus braços. O filme não oferece qualquer solução, apenas mostra a vida: às vezes de forma assustadoramente sombria, às vezes cheia de alegria transcendente e humor delicado.

 

O matador de ovelhas foi apresentado em alguns poucos festivais e universidades antes de receber o prêmio da crítica no Festival de Berlim de 1981. Por sua importância histórica, o Registro Nacional de Filmes dos Estados Unidos o incluiu, no ano de 1990, na lista das 50 obras a serem preservadas, como tesouro nacional, pela Biblioteca do Congresso Nacional norte-americano. Em 2002, a Sociedade Nacional de Críticos de Cinema dos Estados Unidos classificou-o como um dos 100 filmes essenciais de todos os tempos.

 

O matador de ovelhas, primeiro longa de Burnett, foi apresentado como dissertação de mestrado do curso de cinema da Universidade da Califórnia (UCLA) em 1977. O filme foi rodado em locações perto da casa de sua família em Watts, numa série de finais de semana, com um orçamento baixo, de menos de dez mil dólares, cuja maior parte foi conseguida por meio de subvenções. Com seu elenco majoritariamente amador (formado por amigos e conhecidos de Burnett), uma narrativa descontínua e um audacioso estilo documentário foi comparado, por estudiosos e críticos de cinema, aos filmes italianos neorrealistas, tais como Ladrões de Bicicleta de Vittorio De Sica e Paisà de Roberto Rossellini. No entanto, Burnett cita Canção de Ceilão e O Correio da Noite de Basil Wright e O Sulista de Jean Renoir como suas principais influências.

 

Apesar desses elogios, o filme nunca teve grande distribuição por causa dos custos e de complicações com os direitos autorais sobre a trilha sonora (que inclui canções de Etta James, Dinah Washington, Gershwin, Rachmaninov, Paul Robeson e Earth, Wind & Fire). Em suas raras participações em festivais e museus, foram exibidas cópias em péssimo estado, em 16mm. Trinta anos depois uma nova película em 35mm foi restaurada pelo Arquivo de Cinema e Televisão da UCLA. O filme foi relançado nacionalmente em 2007, com aclamação da crítica. A Time Magazine o considerou um dos “25 filmes mais importantes em se tratando de questões de raça.”

Roteiro: Charles Burnett | Fotografia: Charles Burnett | Montagem: Charles Burnett | Som: Charles Bracy | Produção: Charles Burnett | Elenco: Henry G. Sanders, Kaycee Moore, Charles Bracy | Título original: Killer of the Sheep
Filmografia

2007 Namibia: The Struggle for Liberation| 1999 The Annihilation of Fish | 1997 The Final Insult | 1994 The Glass Shield | 1990 | To Sleep with Anger | 1983 My Brother’s Wedding | 1977 Killer of Sheep

Direção

Charles Burnett é cineasta, produtor, escritor, editor, ator, fotógrafo e diretor de fotografia. Nascido em Vicksburg, Mississippi, em 13 de abril de 1944, Charles Burnett se mudou com a família, ainda muito novo, para o bairro de Watts, em Los Angeles. O bairro, que tem uma forte ligação mítica com o Sul do país graças aos imigrantes sulistas, traz a atmosfera que caracteriza grande parte do seu trabalho. Burnett foi figura central da chamada “Rebelião de Los Angeles” da década de 1970 ― movimento de jovens cineastas afro-americanos que emergiram da Faculdade de Cinema da UCLA para criar uma nova forma de cinema independente.

Trailer